terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ardendo

Amanhece o dia após uma noite que não me lembro. Algumas imagens sobrepõem-se à árvore que vejo entre a vegetação e ao muro feito de pedras antigas, que com os anos ficaram cheias de musgo do orvalho matinal, e recordo-me do escuro da noite rodeado de faíscas da fogueira que tinha acendido antes do sol se pôr.
Era a chama da inquietação, que poderia ter ficado acesa toda a noite, a iluminar a minha cegueira jovial, pois entre passos dados na noite anterior, nada se manteve igual.
-Seria para me aquecer?

Tentava recordar-me de algo mais, mas nada. Apenas uma visão deturpada da paisagem negra em que nem as estrelas iluminavam, apenas brilhavam distantes e sem calor. E a fogueira estava apagada quando de manhã olhei, só a cinza a voar com a brisa matinal.

Ao longe um riacho, a correr entre as pedras esculpidas após séculos de passagens de correntes cristalinas, como se nada tivesse alterado o seu curso natural e dirijo-me até ele. Lavo a cara, não satisfeito, dispo-me e lavo-me nessas águas frias, mas sempre a tentar lembrar-me da noite anterior.

Visto-me ainda molhado, a roupa agarra-se ao corpo, mas não me importo. Volto perto da fogueira apagada, e nada. Nada me lembro a não ser as estrelas e das fagulhas ao vento.
- Uma promessa? Recordo-me eu! E nada mais, apenas o fascínio do momento, e nada mais surge no horizonte, a não ser essa promessa feita enquanto delirei com a inconsciência.

Não a consigo quebrar, apenas reflectir essa emoção de estar acordado, e volto a deitar-me acorrentado à natureza de ser livre (quem não quer?). Volto a levantar-me sem pensar no próximo passo, e volto a lavar o rosto nas margens do riacho, e volto ao local onde as brasas já arrefeceram.

Desisto de perceber o significado que nem eu sei, apenas são especulações e pensamentos de quem sonha com o inexplicável e explico-me a mim, todos os momentos.
- A razão não é um conto, é uma série de histórias que se confundem com o sentimento e com a emoção...

... de ser livre!

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